12 Agosto 2020

Bangladeche testemunha sucesso na potenciação de recursos para reforçar o comércio

Em 2017, o Ministério do Comércio do Bangladeche recebeu 50 milhões de dólares do Banco Mundial para abordar questões ligadas à facilitação do comércio e à diversificação das exportações. Fundamental para esse sucesso foi um abrangente estudo sobre o comércio que destacou as medidas prioritárias que o país deve tomar e que foi alvo de aprovação ao alto nível.

A história começa em 2010, quando o Governo do Bangladeche solicitou ao Banco Mundial assistência técnica para as questões comerciais. O organismo aceitou realizar uma análise macroeconómica conhecida como Estudo de Diagnóstico sobre a Integração do Comércio (EDIC).

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Na altura, o Bangladeche debatia-se com um conjunto de questões comerciais, incluindo infraestruturas relacionadas com o comércio inadequadas, procedimentos complexos baseados em papel e travessias lentas das fronteiras que afastavam a economia das exportações e enfraqueciam outras vantagens competitivas. 

“Esperávamos que o EDIC não somente analisasse exaustivamente os desafios comerciais que estávamos a enfrentar, mas também que delineasse um plano para a forma como poderíamos reforçar o comércio”, afirma o Dr. Hafizur Rahman, Diretor-Geral da célula da OMC no Ministério do Comércio do Bangladeche.

Um modelo para o comércio

O estudo desenrolou-se durante quatro anos, dedicando tempo a consultas com as partes interessadas e culminando na preparação de uma “matriz de ação” que pormenorizava medidas propostas para abordar as questões comerciais, os resultados esperados de cada medida e os possíveis desafios da implementação. 

“O estudo teve um amplo alcance; implicou partir de uma perspetiva macro do comércio mundial para as cadeias de valor globais e os diferentes setores e passar às questões gerais relativas ao clima de investimento, bem como aos problemas de infraestrutura que começam nas zonas e chegam aos armazéns... tudo foi analisado”, afirma Nusrat Nahid Babi, Especialista no Setor Privado do Banco Mundial, que assumiu funções no momento do lançamento do EDIC.

Apesar de ser abrangente, o processo do EDIC também ajudou o Governo do Bangladeche a centrar as suas energias em algumas prioridades-chave, em especial na diversificação das exportações.

“Durante os últimos 20-30 anos, o governo tem vindo a debater a diversificação das exportações e definiu cerca de 36 setores como prioridades. Não é verdadeiramente possível realizar progressos significativos em tantos setores assim de uma vez. O EDIC reduziu este número a seis setores, o que ajudou bastante a moldar o diálogo com o governo”, declara Nusrat Nahid Babi.

No entanto, a especialista acredita que o processo de preparação do EDIC foi tão importante como os resultados do estudo em si.

“Durante os quatro anos em que o EDIC estava a ser preparado, vimos muitas agências governamentais a abordar questões comerciais que eram levadas à sua atenção. Assim, além de constituir um modelo para o comércio, o EDIC também contribuiu para moldar o espírito das reformas a realizar”, explica.

Compromisso para com a implementação

Por volta da mesma altura, o Bangladeche elaborava o seu plano nacional quinquenal. Isto garantindo que a relevância estratégica do EDIC para as prioridades governamentais permanecia fundamental, salienta Hafizur Rahman.

“Quando o EDIC foi aprovado pelo Primeiro-Ministro e pelo plano nacional quinquenal, todos os outros ministérios, organizações privadas e parceiros de desenvolvimento receberam o sinal de que havia um compromisso sério para com a implementação.”

O gabinete do Primeiro-Ministro também fundou um comité de implementação do EDIC, encarregado de converter as conclusões do estudo em ação.

“Contactámos um conjunto de parceiros de desenvolvimento e doadores para debater o nosso plano de implementar a matriz de ação e, ao fim de várias reuniões, manifestaram interesse em apoiar uma série de ações específicas”, afirma Hafizur Rahman.

O Ministério do Comércio realizou então diversas reuniões com partes interessadas para iniciar o processo de conceção do projeto.

“Tivemos reuniões com a National Board of Revenue (autoridade tributária nacional), o Balcão Único, a Autoridade Aduaneira em Terra, a Autoridade Portuária em Terra, o Instituto de Normas e Testes do Bangladeche, o Departamento de Pecuária e o Departamento de Extensão Agrária, entre outros”, declara Hafizur Rahman.

During the four years that the DTIS was being prepared, we saw many government agencies address trade issues that were being brought to their attention. So, as well as being a blueprint for trade, the DTIS also helped shape the mindset for reforms to take place.

Em colaboração com o Banco Mundial, conceberam dois projetos. O primeiro consistia num projeto de conectividade regional que visava melhorar a infraestrutura portuária, implementar um sistema aduaneiro eletrónico (balcão único nacional), estabelecer um comité nacional de facilitação do comércio e dos transportes e oferecer um melhor apoio às mulheres comerciantes. O segundo residia num projeto de diversificação das exportações para reforçar a competitividade do Bangladeche noutros setores que não somente o do pronto a vestir (que representa mais de 90% das exportações).

O facto de estas conceções de projeto se terem baseado em dados concretos rigorosos facilitou a sua aprovação, refere Nusrat Nahid Babi.

“O facto de a facilitação do comércio e a competitividade das exportações terem sido destacadas no EDIC facilitou-nos bastante a tarefa de levar a nossa gestão interna a aprová-los.”

“O EDIC também contribuiu para assegurar que o ministério do comércio definia a diversificação das exportações como prioritária”, acrescenta.

Decreto aliado

Ambos os projetos tiveram início em 2017 e desde então fizeram progressos significativos.

“Graças ao trabalho de conectividade regional, foi concluído o aprovisionamento para modernizar um dos portos terrestres, ao passo que os outros se encontram na fase de estudo de viabilidade/conceção”, declara Nusrat Nahid Babi.

No que respeita à modernização aduaneira, o governo assinou um Memorando de Entendimento com 39 agências governamentais e seis associações fundamentais do sector privado e finalizou os pormenores técnicos e jurídicos do sistema do Balcão Único Nacional e software de gestão do risco. Estes sistema reúne numa plataforma comum 208 serviços relacionados com o comércio e foi aprovado e promulgado através da Lei das Finanças de 2020.

Além disso, a National Board of Revenue lançou reformas que beneficiaram 45.700 empresas, resultando numa redução dos prazos de desalfandegamento em aproximadamente 9%.

O projeto de diversificação das exportações tem-se centrado, até ao momento, na moda de alta costura, alimentos transformados e ingredientes farmacêuticos ativos.

“Estamos a planear contratar um estilista de moda internacional para dar formação nos nossos institutos de moda e estabelecemos uma colaboração com uma associação de produtores farmacêuticos que irá formar alguns dos nossos especialistas a fim de produzirem ingredientes farmacêuticos ativos”, afirma Hafizur Rahman.

Até à data, o EDIC informou projetos no valor de 1,18 mil milhões de dólares no Bangladeche, segundo Nusrat Nahid Babi.

“Muitos projetos indiretos basearam-se fortemente no EDIC... Quando se tem uma publicação de referência como esta, vemos que muitos dos projetos contemporâneos se harmonizam com as conclusões desse relatório.”

“Nas alfândegas chamam-lhe um ‘decreto aliado’, mas nós diríamos que o EDIC é um ‘documento aliado’.”

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